A inadimplência entre as famílias brasileiras voltou a crescer em novembro, atingindo 29,4%, o maior índice registrado desde outubro de 2023. O aumento, embora discreto em relação ao mês anterior, reforça uma tendência de alta que vem sendo observada nos últimos meses, à medida que o cenário econômico permanece desafiador para grande parte da população. Paralelamente, o percentual de famílias endividadas também subiu, passando de 76,6% em 2023 para 77% em 2024. Os números foram divulgados nesta quinta-feira (5) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), por meio da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
O levantamento revelou ainda que o total de consumidores que declararam não ter condições de quitar suas dívidas cresceu de 12,6% em outubro para 12,9% em novembro. Esse dado aponta para uma dificuldade crescente entre as famílias de manterem seus compromissos financeiros em dia, o que pode refletir o impacto de fatores como juros elevados, inflação persistente e o aumento do uso de crédito para compras de final de ano.
De acordo com a CNC, a alta na inadimplência é influenciada, em grande parte, pelo comportamento sazonal dos consumidores, que tende a recorrer mais ao crédito durante o período que antecede as festas natalinas. Esse movimento, somado às condições restritivas de crédito e ao peso das despesas acumuladas, resulta em um cenário mais preocupante para muitas famílias.
A pesquisa destacou que o crédito continua sendo uma ferramenta essencial para viabilizar o consumo, especialmente em momentos de celebração e gastos sazonais. No entanto, o acesso a essa modalidade vem se tornando mais caro, com taxas de juros em patamares elevados. Essa conjuntura dificulta o pagamento de parcelas e compromete o orçamento familiar, ampliando o risco de inadimplência.
Outro ponto relevante apontado pela pesquisa foi a distribuição do endividamento. Embora o estudo não detalhe categorias específicas, os cartões de crédito seguem liderando como o principal tipo de dívida, acompanhados por carnês, financiamentos e outras modalidades de crédito pessoal. Essas dívidas, quando somadas, pressionam o orçamento familiar e aumentam a probabilidade de atraso nos pagamentos.
O cenário atual também reflete os desafios econômicos mais amplos enfrentados pelo país. Embora alguns indicadores apontem para uma leve recuperação da atividade econômica, como projeções de crescimento do PIB para 2024, os benefícios ainda não são sentidos de maneira uniforme pelas famílias. O alto custo de vida, somado a uma renda que não acompanha a inflação, agrava o problema e mantém muitas pessoas em uma situação de vulnerabilidade financeira.
A CNC destacou ainda que, apesar do aumento da inadimplência, o crédito continua desempenhando um papel importante na economia, sendo um fator determinante para o crescimento do consumo e do setor de comércio e serviços. No entanto, a confederação alertou para a necessidade de um equilíbrio maior entre o incentivo ao consumo e a gestão responsável das finanças familiares. Sem isso, o endividamento excessivo pode trazer consequências negativas tanto para os consumidores quanto para a economia como um todo.
Especialistas sugerem que o cenário atual exige atenção não apenas das famílias, mas também de instituições financeiras e do governo. Políticas que facilitem a renegociação de dívidas, por exemplo, poderiam ajudar a aliviar a situação de muitos inadimplentes. Ao mesmo tempo, programas de educação financeira são apontados como fundamentais para promover um consumo mais consciente e uma melhor gestão dos recursos.
Em meio a esse panorama, o período de festas de fim de ano traz um desafio adicional para os consumidores, que precisam equilibrar a pressão para gastar com a realidade de suas finanças. Para muitas famílias, a necessidade de evitar um endividamento ainda maior pode levar a decisões difíceis, como reduzir gastos ou priorizar pagamentos mais urgentes.
O aumento da inadimplência e do endividamento reflete a complexidade do momento vivido por muitas famílias brasileiras. Enquanto algumas recorrem ao crédito para manter um padrão mínimo de consumo, outras lutam para pagar compromissos já assumidos, criando um ciclo de dificuldades financeiras. O desafio para 2024 será encontrar caminhos para reverter essa trajetória e criar condições mais favoráveis para o equilíbrio financeiro das famílias.
Assim, os números divulgados pela CNC não apenas mostram um retrato da situação atual, mas também apontam para a necessidade de medidas estruturais que promovam maior estabilidade e segurança financeira. Seja por meio de ações governamentais, políticas de crédito mais acessíveis ou iniciativas de conscientização, o objetivo deve ser criar um ambiente onde as famílias possam consumir e investir sem comprometer seu futuro econômico.