O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu o primeiro dia da Cúpula de Líderes do G20 no Rio de Janeiro com um discurso impactante que destacou um compromisso central da presidência brasileira do grupo: o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Durante sua fala, Lula enfatizou que a fome é uma questão política, citando o cientista social Josué de Castro, e ressaltou que eliminar esse problema é uma tarefa inadiável para as lideranças globais. Segundo o presidente, a fome reflete desigualdades estruturais e escolhas políticas que perpetuam a exclusão social, e sua erradicação deve ser tratada como prioridade máxima.
O anúncio da aliança marca o principal legado da presidência brasileira no G20, segundo Lula. Ele destacou que o objetivo é construir uma estrutura internacional que promova políticas públicas eficazes, reúna recomendações globais e mobilize recursos financeiros para combater a fome e a pobreza. Para o presidente, essa iniciativa é essencial não apenas para garantir justiça social, mas também para fomentar sociedades mais prósperas e promover um mundo pacífico. Ele mencionou que o combate à fome está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, que visam erradicar a pobreza extrema e alcançar segurança alimentar global.
Durante o discurso, Lula traçou um panorama preocupante da situação global. Ele destacou que o mundo enfrenta o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial, além de eventos climáticos extremos e desigualdades sociais agravadas pela pandemia de COVID-19. Nesse contexto, a fome e a pobreza surgem como os principais símbolos dessas crises. Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que 733 milhões de pessoas sofrem de subnutrição em 2024, um número equivalente à soma das populações de países como Brasil, México, Alemanha e Reino Unido. O presidente classificou essa realidade como inadmissível, especialmente em um mundo que produz alimentos em abundância e investe trilhões de dólares em gastos militares.
Ao apresentar a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, Lula destacou a responsabilidade dos países do G20, que representam a maior parte do PIB e do comércio mundial. Ele lembrou que o Brasil já demonstrou ser possível combater a fome e a pobreza de maneira eficaz, citando políticas como o Bolsa Família e o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que retiraram o país do Mapa da Fome da FAO em 2014. No entanto, o presidente lamentou que o Brasil tenha voltado a esse cenário em 2022 devido à desarticulação de programas sociais. Desde seu retorno ao governo, medidas voltadas à inclusão social já retiraram mais de 24 milhões de brasileiros da extrema pobreza, e o presidente reafirmou que o país sairá novamente do Mapa da Fome até 2026.
A Aliança Global já conta com o apoio de 81 países, 26 organizações internacionais, nove instituições financeiras e 31 fundações e organizações não-governamentais, segundo Lula. Ele agradeceu a todos os envolvidos no desenvolvimento da iniciativa, incluindo aqueles que já anunciaram contribuições financeiras. O presidente destacou que a Aliança, embora nascida no G20, tem um alcance global e visa colocar os mais vulneráveis no centro da agenda internacional. Para Lula, o lançamento da aliança não é o fim, mas o início de um esforço conjunto para enfrentar uma das maiores vergonhas da humanidade.
O presidente também relembrou a trajetória histórica do G20, mencionando sua participação na primeira reunião de líderes em 2008, realizada no contexto da crise financeira global. Lula comparou a situação daquela época com o cenário atual, afirmando que o mundo piorou em vários aspectos, com desigualdades crescentes, deslocamentos forçados e os efeitos devastadores da mudança climática. No entanto, ele reforçou que há esperança se houver coragem e determinação para agir.
Com o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, Lula conclamou os líderes do G20 a assumirem a responsabilidade de acabar com essa chaga social. Ele declarou oficialmente a iniciativa lançada, marcando o início de um esforço global para construir um futuro mais justo e igualitário. A Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, sob a liderança brasileira, já entra para a história como um marco no combate às desigualdades globais e na luta pelo direito à alimentação e à dignidade humana.