Lula rebate críticas do mercado financeiro com ironia: 'Já conquistei 10% deles'

Cassia Marinho
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Durante a inauguração do Projeto Cerrado, em Três Lagoas (MS), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma declaração marcada por ironia ao comentar os números da mais recente pesquisa Genial/Quaest sobre a percepção do mercado financeiro em relação ao seu governo. O levantamento revelou que a reprovação do presidente subiu de 64% em março para 90% entre gestores, economistas, analistas e operadores de fundos de investimento, voltando aos índices registrados no início de seu mandato. Lula, no entanto, encarou o dado com bom humor e otimismo.


O presidente destacou que, nas eleições de 2022, o mercado financeiro era "100% contra" sua candidatura e apontou o resultado da pesquisa como um sinal de progresso. "Ontem saiu uma pesquisa que mostrou que 90% do mercado, daqueles que compõem a Faria Lima, são contra o meu governo. Eu já ganhei 10%, porque nas eleições eles eram 100% contra. Então, eu já cresci, já ganhei 10% deles", afirmou, arrancando risos da plateia presente.


A declaração de Lula foi feita durante o lançamento da maior linha única de produção de celulose do mundo, pertencente à Suzano. Ele aproveitou a ocasião para reforçar seu compromisso com um governo focado em resultados que beneficiem a população e destacou que sua volta à Presidência não foi motivada por ambição pessoal. "Eu não voltei a ser presidente da República porque precisava. Voltei para provar, mais uma vez, que um torneiro mecânico, sem diploma universitário, pode governar este país melhor do que muitos com diversos diplomas, mas sem sensibilidade social", afirmou o petista, em tom combativo.


A pesquisa que motivou o comentário de Lula foi realizada entre os dias 29 de novembro e 3 de dezembro, logo após o anúncio do pacote de ajuste fiscal no último dia 27. Foram entrevistados 105 profissionais ligados a fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro. O resultado apontou uma percepção amplamente negativa do mercado financeiro em relação ao governo federal, refletindo as críticas às medidas econômicas propostas.


Apesar das dificuldades com o mercado, o presidente demonstrou confiança no futuro da economia brasileira. Durante o discurso, ele previu um crescimento de 3,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, com potencial de chegar a 4%. "O que me interessa, na verdade, é o resultado do tipo de jabuticaba que você plantou", comentou Lula, utilizando a metáfora para se referir à singularidade do modelo econômico que está sendo implementado pelo governo.


O presidente também defendeu enfaticamente os investimentos sociais e educacionais como pilares de sua gestão. Ele ressaltou a importância de priorizar áreas que impactem diretamente a vida da população e apontou a educação como uma das principais frentes. "Se tiver que investir em escola, eu vou investir. É mais barato do que investir em presídio", afirmou, sinalizando a direção que pretende seguir em políticas públicas.


O contexto da fala de Lula reflete uma relação histórica de desconfiança entre o mercado financeiro e o Partido dos Trabalhadores. Durante seus mandatos anteriores, o presidente enfrentou críticas semelhantes, mas também conquistou avanços econômicos significativos que, em muitos momentos, reverteram parte da resistência inicial. A declaração desta quinta-feira reforça sua postura de confronto com as elites financeiras e sua aposta em uma agenda de crescimento com inclusão social.


O Projeto Cerrado, inaugurado no evento, foi mencionado pelo presidente como um exemplo de desenvolvimento sustentável e geração de emprego. O empreendimento da Suzano, que representa um marco para o setor de celulose, foi elogiado por Lula como uma demonstração de que é possível conciliar progresso econômico com responsabilidade ambiental. Ele destacou que projetos como esse são fundamentais para a economia brasileira e reafirmou o compromisso do governo com a promoção de oportunidades em diferentes regiões do país.


Em um momento de polarização política e econômica, a postura de Lula indica que ele continuará buscando apoio popular para sustentar sua agenda de governo, mesmo diante de uma relação tensa com setores específicos, como o mercado financeiro. A confiança expressa no discurso sinaliza a determinação do presidente em manter o rumo de suas políticas, apostando na capacidade de provar que sua abordagem pode gerar resultados positivos para o Brasil como um todo.


A fala de Lula também evidenciou uma tentativa de diálogo indireto com os críticos, ao mesmo tempo em que reforçou sua base política e social. A menção ao crescimento de 10% na aprovação do mercado, embora feita em tom de brincadeira, reflete uma estratégia de comunicação que busca transformar números desfavoráveis em oportunidade de reafirmação de sua liderança.


Enquanto o governo enfrenta desafios para equilibrar expectativas do mercado e atender às demandas da população, Lula parece disposto a sustentar sua visão de um Brasil que cresce com justiça social e inclusão, mesmo sob o olhar desconfiado de parte dos setores econômicos mais conservadores.

 

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