Gilmar Mendes: Moro e Deltan deram má fama a Curitiba

Cassia Marinho
0


 Em uma cerimônia na Câmara Legislativa do Distrito Federal, onde recebeu o título de cidadão honorário de Brasília, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes fez duras críticas à Operação Lava Jato e a atuação de figuras-chave da força-tarefa, como o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol. Durante seu discurso, o ministro afirmou que Curitiba, a cidade que foi o epicentro das investigações da Lava Jato, ficou “mal-afamada” devido às ações de Moro, Dallagnol e outros membros da operação.


Mendes destacou que a cidade de Curitiba, no passado, tinha uma reputação diferente, mais ligada a uma imagem de prosperidade e progresso. No entanto, ele alegou que a capital paranaense passou a ser vista de maneira negativa, associada a um período de abusos e excessos cometidos durante a Lava Jato. “A Curitiba do passado não é a Curitiba que ficou mal-afamada por conta desses episódios de Moro, Dallagnol e companhia. Era a Curitiba que trilhava senhas para um outro Brasil que trilhamos e foi extremamente importante”, disse o ministro, refletindo sobre a importância histórica da cidade antes da ascensão da operação que marcou os últimos anos de política nacional.


A fala de Gilmar Mendes também incluiu uma menção à sua própria experiência em Curitiba, quando participou do 7° Congresso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 1978, na cidade. Na ocasião, ele fez questão de ressaltar que a capital paranaense, antes do auge da Lava Jato, tinha uma imagem positiva e foi palco de eventos significativos na história do país. No entanto, a partir da Lava Jato, o nome de Curitiba passou a ser associado a um capítulo conturbado da história recente do Brasil, marcado por processos controversos e a polarização política que se seguiu.


Em relação à Operação Lava Jato, Mendes já havia se posicionado de maneira crítica em outras ocasiões. Em março deste ano, em entrevista à Agência Brasil, ele chamou a Lava Jato de “uma verdadeira organização criminosa” e fez um contundente alerta sobre os abusos cometidos durante as investigações. Para Mendes, a operação, que foi originalmente concebida para combater a corrupção, acabou se envolvendo em práticas ilícitas. “O que a gente aprendeu [com a Lava Jato]? Eu diria em uma frase: não se combate o crime cometendo crimes. Na verdade, a Lava Jato terminou como uma verdadeira organização criminosa, envolveu-se em uma série de abusos de autoridades, desvio de dinheiro, violação de uma série de princípios e tudo isso é de todo lamentável”, afirmou o ministro.


A crítica de Gilmar Mendes se reflete em um clima de crescente polarização sobre o legado da Lava Jato. Para seus defensores, a operação foi um marco no combate à corrupção e teve um impacto importante na política brasileira. No entanto, para seus críticos, como o próprio Mendes, a operação ultrapassou os limites legais e se envolveu em práticas que violaram direitos e garantias constitucionais. Mendes tem sido um dos principais críticos da Lava Jato, especialmente no que diz respeito aos métodos usados pelos procuradores e juízes envolvidos nas investigações, como o próprio Moro, que chegou a ser ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro.


A fala do ministro durante a cerimônia, que durou cerca de 40 minutos, chamou a atenção não apenas pela crítica direta à operação, mas também pela maneira como ele abordou a história da cidade de Curitiba e sua transformação no cenário político brasileiro. Mendes, que sempre se posicionou de maneira independente em relação a questões políticas, destacou a importância de se aprender com os erros do passado, em especial no que se refere ao uso do poder judiciário e das investigações para fins políticos.


Ao longo dos anos, Gilmar Mendes se tornou uma figura controversa no cenário político e judicial brasileiro. Seu posicionamento crítico em relação à Lava Jato e sua atuação no STF têm gerado reações tanto de apoio quanto de oposição. O ministro defende uma visão mais equilibrada sobre o combate à corrupção, argumentando que, para ser efetivo, o processo deve respeitar os direitos individuais e as normas constitucionais. Sua crítica à Lava Jato é, portanto, um reflexo de sua visão sobre os limites do poder judiciário e a importância de garantir um processo legal justo e imparcial.


Com suas declarações, Gilmar Mendes reacende o debate sobre o legado da Operação Lava Jato e a forma como ela afetou não apenas a política, mas também a imagem do Brasil no cenário internacional. As críticas à operação, especialmente sobre o uso do poder judicial, continuam sendo um tema divisivo no país, que ainda tenta superar as consequências de um período de intensas investigações e polarização política.

Tags

Postar um comentário

0Comentários

Postar um comentário (0)

#buttons=(Aceitar !) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Saiba mais
Accept !