Michel Temer minimiza ameaças contra líderes políticos e reforça
confiança na democracia brasileira
O ex-presidente Michel Temer afirmou nesta segunda-feira, durante um evento
da Confederação Nacional do Comércio (CNC), que não considera preocupantes as
recentes ameaças feitas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao
vice-presidente Geraldo Alckmin e ao ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF), Alexandre de Moraes. Embora tenha reconhecido a existência das ameaças,
Temer declarou que elas não possuem força suficiente para se concretizar,
destacando sua confiança na estabilidade institucional do Brasil.
Durante sua fala, Temer abordou a diferença entre ameaças e ações concretas,
enfatizando que muitos planos divulgados ao público não chegam a sair do papel.
Ele aproveitou a ocasião para reforçar que a democracia brasileira, mesmo
diante das tensões políticas atuais, permanece sólida e resiliente. “O que
vemos são planos que, em muitos casos, não chegam a ser executados. Existe uma
diferença considerável entre a ameaça e a concretização de um ato”, afirmou.
A estabilidade do sistema político foi outro ponto central abordado pelo
ex-presidente. Temer destacou que não acredita em retrocessos no campo
democrático e descartou a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil,
apontando que tal movimento dependeria do apoio das Forças Armadas. Para ele,
esse cenário está fora de cogitação no momento. “Golpe, para ser efetivo, só
acontece com o envolvimento das Forças Armadas. Sem o apoio delas, não há golpe
possível no país”, declarou de forma categórica.
A relação entre instituições e o fortalecimento da democracia
As declarações de Michel Temer ocorrem em um contexto de maior atenção às
ameaças à democracia no Brasil, especialmente após o indiciamento do ex-presidente
Jair Bolsonaro e de outras 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado. Entre
os indiciados estão militares da ativa e da reserva, o que reacendeu o debate
sobre a influência das Forças Armadas nas crises políticas do país. Temer, no
entanto, procurou separar ações individuais da responsabilidade institucional.
“Há militares envolvidos, mas isso não representa a instituição como um todo.
Foram ações isoladas de alguns setores, não uma postura das Forças Armadas
enquanto entidade”, ponderou.
Além disso, Temer destacou a importância de proteger as instituições
democráticas e preservar o diálogo entre os diferentes poderes da República.
Ele ressaltou que as tensões políticas são normais em democracias, mas que é
essencial encontrar pontos de equilíbrio para evitar crises maiores. “As
instituições brasileiras têm demonstrado resiliência, lidando com os momentos
de tensão de maneira a preservar a ordem constitucional”, afirmou.
Durante o evento, o ex-presidente também analisou o impacto da polarização
política e da disseminação de desinformação no fortalecimento das instituições.
Para ele, o Brasil precisa combater narrativas que promovam a deslegitimação do
sistema democrático e investir em um diálogo político mais construtivo. “As
divergências são naturais e fazem parte do processo democrático, mas a
incapacidade de dialogar é o verdadeiro problema. Precisamos fortalecer os
canais de comunicação e encontrar pontos de convergência”, disse.
Temer também evitou críticas diretas ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes,
mesmo diante das acusações de perseguição política feitas por apoiadores de
Bolsonaro. Ele preferiu adotar um tom conciliador, reforçando que o Brasil
possui mecanismos robustos para enfrentar crises sem comprometer a democracia.
Essa postura contrasta com a linha mais contundente de Moraes, que lidera
investigações contra grupos e indivíduos envolvidos em atos antidemocráticos.
Contexto histórico e desafios atuais
As declarações de Temer refletem sua experiência como articulador político
em momentos críticos da história recente do Brasil. O ex-presidente assumiu o
cargo após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e lidou com uma série de
crises institucionais e políticas durante seu mandato. Essa vivência moldou sua
percepção de que a democracia brasileira possui capacidade de superar
adversidades e manter sua estrutura. “Já passamos por momentos difíceis, mas as
instituições sempre encontraram formas de preservar o equilíbrio e o diálogo”,
lembrou.
O debate sobre a saúde da democracia brasileira ocorre em um momento em que
o país ainda enfrenta as consequências das tensões geradas pelas eleições de
2022. Os episódios de violência política e a invasão das sedes dos Três Poderes
em 8 de janeiro de 2023 permanecem como temas centrais no debate público. As
investigações sobre os responsáveis continuam em andamento, e o sistema
judicial tem atuado para garantir a responsabilização daqueles envolvidos.
Temer também foi questionado sobre as recentes críticas ao processo
eleitoral e a propagação de discursos que enfraquecem a confiança na
democracia. Ele afirmou que é essencial que lideranças políticas e instituições
trabalhem para combater a desinformação e fortalecer os valores democráticos.
Para Temer, o diálogo entre os diferentes setores da sociedade é fundamental
para evitar retrocessos e garantir a estabilidade política. “O Brasil é um país
que tem desafios enormes, mas temos capacidade para enfrentá-los e preservar
nossas conquistas democráticas”, concluiu.
As palavras de Temer geraram reações mistas. Enquanto alguns consideram sua
postura moderada um sinal de pragmatismo e confiança nas instituições, outros
avaliam suas declarações como uma minimização de ameaças que podem comprometer
o Estado de Direito. Independentemente das interpretações, o discurso do
ex-presidente reforça a importância de preservar o diálogo e a cooperação entre
os poderes para assegurar a democracia brasileira.