"Planejar não configura crime, destaca renomado jurista: 'Se fosse, até roteiristas e escritores estariam presos'"

Caio Tomahawk
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Reflexões de Andre Marsiglia sobre o Cenário Político e Jurídico Brasileiro: Desafios para a Democracia

Em uma entrevista à TV JCO, o jurista Andre Marsiglia compartilhou suas análises sobre o atual cenário político e jurídico brasileiro, abordando questões cruciais para a manutenção da democracia no país. Marsiglia, conhecido por sua atuação no emblemático caso envolvendo o ministro Dias Toffoli e a revista Crusóe, que gerou o polêmico Inquérito das Fake News, aproveitou a ocasião para expor suas preocupações sobre o enfraquecimento do equilíbrio entre os três poderes da República e os riscos que isso representa para a liberdade de expressão. As reflexões do jurista também fazem parte de seu livro “Censura por Toda Parte”, onde ele explora as implicações jurídicas e políticas de casos emblemáticos na história recente do Brasil.

Marsiglia ressaltou a necessidade de se preservar os pilares da democracia, enfatizando a importância de manter a independência dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Para o jurista, qualquer movimento que enfraqueça essa separação de funções pode ter consequências profundas na saúde da república. Durante a entrevista, ele criticou a aliança estratégica entre o Executivo e o Judiciário, que, segundo ele, tem enfraquecido o Legislativo e, por consequência, comprometido o equilíbrio do sistema. “Quando o Executivo e o Judiciário se unem, o Legislativo fica marginalizado, e isso cria um cenário de desequilíbrio que não pode ser ignorado. Uma república desproporcional não é uma república”, afirmou Marsiglia, alertando sobre os perigos dessa configuração.

A Perigosa Criminalização de Planejamentos Políticos e a Defesa da Liberdade de Expressão

Outro ponto central na entrevista foi a análise de Marsiglia sobre o recente burburinho envolvendo um suposto plano de golpe envolvendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Alexandre de Moraes. Marsiglia ironizou a frequência com que essas denúncias surgem, sempre em momentos estratégicos quando o governo está em uma posição vulnerável, como no caso em que a primeira-dama Janja fez críticas públicas ao empresário Elon Musk, gerando repercussão negativa. O jurista sugeriu que a revelação de tais planos pode ser uma tática para desviar a atenção de outras questões, muitas vezes menores, mas que geram maior controvérsia.

Sob a ótica jurídica, Marsiglia foi enfático em afirmar que, até o momento, não há elementos concretos que provem a execução de qualquer crime relacionado a esse suposto plano. Ele explicou que, segundo a legislação brasileira, o simples ato de planejar um crime não configura delito, a menos que haja ações concretas que o comprovem. “Planejar um crime não é crime, se fosse, teríamos que prender todos os escritores e roteiristas de séries!”, disse Marsiglia, ressaltando que as investigações devem ser conduzidas com base em provas substanciais e sem pressões políticas.

O jurista também abordou o perigo de se criminalizar a simples intenção ou planejamento, alertando que isso pode criar precedentes perigosos para os direitos individuais e para a liberdade de expressão. Ele destacou que a liberdade de expressão deve ser preservada, mesmo quando as opiniões ou intenções não se concretizam em ações ilegais. Para ele, a criminalização de pensamentos ou planos pode gerar uma cultura de perseguição que enfraquece a democracia, já que permite a limitação da liberdade de pensar e debater livremente.

Marsiglia defendeu que o debate público no Brasil deve ser fundamentado em fatos reais e que os órgãos de investigação precisam agir de forma técnica e imparcial, sem influências externas ou políticas. Em sua visão, o uso de alegações sensacionalistas ou a criação de teorias conspiratórias só servem para desviar o foco dos problemas estruturais do país, como a crise fiscal, a desigualdade social e a falta de uma verdadeira reforma política. Para o jurista, a sociedade brasileira precisa adotar uma postura mais crítica em relação ao que é veiculado na mídia, analisando o contexto e o timing de cada revelação, que muitas vezes parece ser usada para manipular a opinião pública.

Por fim, Marsiglia fez uma crítica ao sistema político brasileiro, que, segundo ele, não tem demonstrado um funcionamento eficaz de pesos e contrapesos, essenciais para a preservação da democracia. Ele lembrou que quando um poder se alia a outro, o equilíbrio é comprometido, e o Legislativo acaba ficando enfraquecido. O jurista acredita que a ausência de uma fiscalização mútua entre os poderes enfraquece a própria estrutura da república e coloca em risco os direitos fundamentais dos cidadãos.

A reflexão de Marsiglia é um alerta para o futuro do Brasil, especialmente em tempos de polarização política crescente. Sua análise aponta para a necessidade de um sistema político mais robusto e capaz de resistir a pressões externas, que seja capaz de garantir a independência dos três poderes e preservar os direitos de todos os brasileiros.

 


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