O deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL, defendeu nesta quinta-feira sua aliança com o vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSB, durante uma entrevista coletiva promovida pelo GLOBO, Valor e CBN. A relação entre Boulos e Alckmin é marcada por um episódio polêmico que ocorreu em 2012, quando Alckmin, então governador de São Paulo, esteve à frente da desocupação da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, um evento que culminou na prisão de Boulos. Agora, Alckmin está previsto para apoiar Boulos no palanque durante o segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo.
Boulos argumentou que a mudança não está nas personalidades, mas no contexto político do Brasil. Ele afirmou que a ascensão de um campo político de extrema-direita, caracterizado pelo ódio e pela violência, exigiu que setores com visões divergentes se unissem para enfrentá-lo. O candidato lamentou a ausência do atual prefeito Ricardo Nunes, do MDB, no debate que deveria ter ocorrido. Ele destacou que a falta de participação de Nunes é prejudicial à democracia, mencionando que o prefeito tem se esquivado de discutir suas responsabilidades durante a gestão.
Boulos criticou Nunes por ter mudado sua posição em relação à vacinação, apontando que o atual prefeito agora se opõe à obrigatoriedade da vacina, uma medida que considera essencial. Segundo ele, ser contra a vacinação significa estar contra a saúde pública. A campanha de Boulos, que foi líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) por duas décadas, se intensificou com críticas mais agudas ao prefeito, especialmente em relação a questões sociais e de habitação.
Ao abordar a questão da ocupação de terrenos, Boulos evitou afirmar diretamente se apoia esse tipo de ação. Em vez disso, ele prometeu que, se eleito, seu governo terá como prioridade o menor número possível de ocupações, garantindo um programa robusto de moradia e regularização fundiária. Ele se orgulha de seu histórico no MTST, mencionando as dificuldades enfrentadas durante sua liderança, incluindo três prisões por protestos e despejos.
Sobre a Câmara dos Vereadores, Boulos comentou que, se eleito, não terá a maioria, mas pretende trabalhar em diálogo com os vereadores para construir um compromisso em torno de pautas relevantes. Ele acredita que sua candidatura representa uma mudança real, em contraste com a reeleição de Nunes, que, segundo ele, representa a manutenção do mesmo grupo político.
Boulos também abordou suas despesas de campanha, afirmando que recebeu R$ 64 milhões do fundo eleitoral, sendo R$ 35 milhões do PSOL e R$ 29 milhões do PT. Ele fez uma comparação com o atual prefeito, que obteve R$ 44 milhões da sua coligação, sugerindo que seu adversário utiliza recursos de maneira inadequada. Boulos ressaltou que, apesar da diferença em gastos, sua campanha não recorre a práticas ilegais como caixa dois.
Além disso, o candidato discutiu a questão do aborto legal em São Paulo, afirmando que cumprirá a lei vigente e que a violência contra a mulher é um problema sério na cidade. Ele se comprometeu a reforçar a patrulha Maria da Penha para proteger mulheres que possuem medidas protetivas.
Em relação ao novo Plano Diretor da cidade, Boulos criticou a atuação de Nunes, acusando-o de favorecer interesses de construtoras em detrimento das necessidades da população. Ele defendeu uma revisão das regras de construção para garantir que as decisões atendam às demandas da cidade e não apenas a um pequeno grupo de empresários.
Para atrair o eleitorado feminino, Boulos anunciou um projeto chamado "Acredita Mulher", destinado a oferecer crédito para mulheres empreendedoras que queiram iniciar ou expandir seus negócios. Ele também mencionou a importância de fortalecer a infraestrutura para trabalhadores autônomos, prometendo reuniões com o presidente Lula para discutir melhorias.
Durante a entrevista, Boulos teve a oportunidade de questionar Nunes, que não compareceu. Ele trouxe à tona uma reportagem sobre a ligação do chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura com um notório traficante e questionou sobre a influência de Jair Bolsonaro na administração atual, especialmente em relação às políticas de saúde durante a pandemia.
Por fim, Boulos apresentou propostas específicas para motoristas de aplicativo e taxistas, prometendo facilitar a transferência de alvarás e criar estruturas de apoio para esses trabalhadores. Ele concluiu ressaltando a necessidade de um governo que escute e atenda as demandas da população, buscando sempre promover mudanças significativas na cidade de São Paulo. A ausência de Nunes no debate foi um ponto crítico, e Boulos utilizou essa oportunidade para reforçar sua posição como um candidato que está disposto a enfrentar os desafios e dialogar com a sociedade.