A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, utilizou suas redes sociais para criticar o instituto de pesquisa Quaest nesta quarta-feira, 4 de dezembro. O ataque ocorreu após a divulgação de um levantamento realizado pelo instituto em parceria com a Genial Investimentos. O estudo abordou a percepção de agentes econômicos sobre o governo Lula e revelou que 90% dos profissionais ligados a fundos de investimento rejeitam a atual política econômica do governo petista. O índice representa um aumento significativo em relação aos 64% registrados em março deste ano.
Incomodada com os resultados, Gleisi reagiu com críticas e tentou desqualificar os dados apresentados pela Quaest. Em tom combativo, a presidente do PT alegou que os números divulgados pelo instituto seriam manipulados para prejudicar a imagem do governo. Em sua publicação na rede social X, antiga Twitter, Gleisi distorceu o cenário econômico ao citar dados que, segundo especialistas, não refletem de forma precisa a situação atual.
“Quest (sic) faz pesquisa para mostrar que os agentes do mercado odeiam Lula, mesmo abocanhando 6% do PIB em juros da dívida pública (quatro anos de Bolsa Família), num governo em que o Ibovespa já cresceu mais de 20% e suas ações da Petrobras valorizaram 140%, com o PIB crescendo 3% dois anos seguidos”, afirmou Gleisi.
A declaração foi acompanhada de uma sugestão irônica de que o instituto realizasse uma pesquisa sobre a opinião da população a respeito dos agentes do mercado financeiro. A fala reflete a estratégia do PT de contrapor críticas de setores econômicos com a retórica de que esses grupos estariam desconectados dos interesses da maioria da população brasileira.
A pesquisa da Quaest, no entanto, foi recebida por analistas de mercado como um retrato fiel do descontentamento crescente dos agentes econômicos com a condução da política econômica do governo. Entre os principais pontos de insatisfação apontados no estudo estão a falta de clareza em relação às reformas estruturais, o aumento das despesas públicas e a percepção de que o governo prioriza questões ideológicas em detrimento de medidas que estimulem a confiança do mercado.
Economistas ouvidos por veículos de comunicação destacaram que a deterioração da percepção dos agentes de mercado não é uma surpresa. A elevação da rejeição, de 64% em março para 90% agora, reflete um desgaste acumulado em função de decisões consideradas equivocadas, como o aumento das taxas de juros e a falta de uma política fiscal mais sólida e transparente.
Ao adotar um tom combativo e distorcer os dados apresentados, Gleisi Hoffmann busca reforçar o discurso de que as críticas vindas de setores do mercado financeiro são parte de uma oposição sistemática ao governo Lula. A narrativa, amplamente utilizada pelo PT, tenta vincular o descontentamento dos agentes econômicos a um suposto desinteresse desses grupos pelo bem-estar da população em geral.
Apesar disso, o cenário econômico atual levanta preocupações em diversos setores. O governo enfrenta o desafio de equilibrar a necessidade de manter a base política com a urgência de retomar a confiança dos investidores e estimular o crescimento sustentável. Os dados positivos citados por Gleisi, como a valorização das ações da Petrobras e o crescimento do PIB, embora reais, são insuficientes para neutralizar as críticas sobre a falta de coordenação e clareza na política econômica.
Além disso, analistas políticos avaliam que o embate público entre Gleisi e o instituto Quaest pode gerar efeitos colaterais negativos para o governo. Ao atacar uma entidade que se limita a apresentar dados de uma pesquisa, a presidente do PT corre o risco de passar a impressão de intolerância a opiniões divergentes. Essa postura pode intensificar a percepção de que o governo petista tem dificuldades em lidar com críticas de maneira construtiva.
O episódio também ilustra as dificuldades enfrentadas pelo governo em articular uma narrativa unificada para responder às demandas do mercado e às críticas da oposição. Enquanto setores do governo, como o Ministério da Fazenda, buscam enviar sinais de compromisso com a responsabilidade fiscal, lideranças políticas próximas a Lula continuam adotando um tom mais ideológico, criando ruídos na comunicação oficial.
O debate em torno da pesquisa da Quaest e das declarações de Gleisi ocorre em um momento em que o governo enfrenta crescentes desafios para equilibrar sua agenda política e econômica. Com a proximidade do fim do ano, o Planalto se vê pressionado a apresentar resultados mais concretos para cumprir suas metas fiscais e retomar a confiança dos agentes econômicos, enquanto tenta manter a base de apoio político e popular.
A polarização entre o governo e o mercado, evidenciada nesse episódio, reforça o clima de tensão que permeia o cenário político e econômico brasileiro. Enquanto isso, o desafio de construir um diálogo mais produtivo e menos confrontador permanece como uma das principais tarefas da gestão Lula nos próximos meses.