O ex-presidente Jair Bolsonaro encaminhou nesta terça-feira, 3 de dezembro, um pedido ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que possa comparecer ao velório de Leila Caran Costa, mãe de Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL). O funeral acontece em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo. A solicitação é sensível, dado que Bolsonaro e Valdemar estão proibidos de manter contato, até mesmo por intermédio de advogados, em função de restrições impostas por investigações relacionadas à Operação Tempus Veritatis.
A operação, deflagrada em fevereiro de 2024, busca apurar a atuação de uma organização criminosa supostamente envolvida em uma tentativa de golpe de Estado. Durante a ação, Valdemar Costa Neto foi preso por porte ilegal de arma de fogo, mas foi liberado após dois dias. Bolsonaro, por sua vez, teve seu passaporte apreendido e está proibido de deixar o país. Além disso, ambos foram indiciados pela Polícia Federal no inquérito que investiga um suposto plano de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.
O pedido encaminhado pelos advogados de Bolsonaro destaca a relação de longa data entre o ex-presidente e Valdemar Costa Neto, além do caráter excepcional da situação. Segundo o documento, Bolsonaro compromete-se a não discutir quaisquer assuntos relacionados às investigações em curso durante o encontro no funeral. “Considerando a relação entre o peticionário e o sr. Valdemar e a excepcionalidade da situação, é a presente para requerer, em caráter excepcional, autorização para o comparecimento aos funerais da genitora do sr. Valdemar”, diz o texto.
A decisão agora está nas mãos de Alexandre de Moraes, que tem sido uma figura central nos desdobramentos das investigações envolvendo Bolsonaro, Valdemar e outros acusados. Moraes, relator de casos de grande repercussão no STF, como os inquéritos sobre atos antidemocráticos e fake news, é frequentemente alvo de críticas por parte do ex-presidente e seus aliados. Essa tensão pode influenciar na percepção pública de qualquer decisão tomada.
A relação entre Bolsonaro e Valdemar Costa Neto ganhou destaque durante o governo do ex-presidente, quando o PL se tornou um dos principais partidos de sustentação política de Bolsonaro. Mesmo após o término de seu mandato, Valdemar manteve apoio público a Bolsonaro, o que fortaleceu os laços entre eles. Contudo, as investigações em curso têm abalado essa parceria, colocando ambos sob intensos holofotes políticos e jurídicos.
A morte de Leila Caran Costa, figura discreta na vida pública, mas muito próxima de Valdemar, traz um tom mais humano a uma relação marcada por questões políticas e judiciais. Em meio a um cenário de tensões legais, o pedido de Bolsonaro para prestar solidariedade a Valdemar no funeral demonstra uma tentativa de manter laços pessoais apesar das restrições judiciais.
Enquanto Moraes analisa o pedido, especula-se sobre o impacto que sua decisão pode ter no andamento das investigações e na opinião pública. Caso o ministro permita a ida de Bolsonaro ao funeral, será necessário estipular condições rigorosas para evitar qualquer contato que possa interferir nos processos em andamento. Por outro lado, uma negativa poderá ser interpretada por aliados do ex-presidente como uma atitude excessivamente rígida, alimentando narrativas de perseguição política.
O contexto das investigações e a gravidade das acusações tornam a situação ainda mais delicada. A Operação Tempus Veritatis revelou uma série de supostos planos e ações que, se comprovados, configuram ameaças graves ao estado democrático de direito. Nesse cenário, decisões relacionadas a figuras públicas como Bolsonaro e Valdemar são avaliadas com cautela, dada a sensibilidade e o impacto político envolvidos.
Independentemente da decisão de Moraes, o episódio ilustra as complexidades das relações políticas em meio a investigações judiciais. A situação coloca em evidência as tensões entre questões pessoais e os limites impostos pela Justiça em casos de grande repercussão. Além disso, reforça o papel central do STF na mediação de conflitos envolvendo lideranças políticas em momentos críticos para o cenário democrático brasileiro.