O ex-presidente Jair Bolsonaro criticou duramente a fala do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, sobre a imunidade parlamentar. A declaração de Rodrigues, feita na quarta-feira (4), foi uma resposta ao presidente da Câmara, Arthur Lira, que havia defendido a imunidade dos parlamentares diante de investigações da PF. O comentário gerou uma reação negativa de Bolsonaro, que usou suas redes sociais, especificamente a plataforma X, para manifestar sua insatisfação.
Bolsonaro questionou a autoridade de Andrei Rodrigues em “rebater” e “ensinar” sobre imunidade parlamentar, além de criticar a atuação do chefe da PF em se envolver em questões que, segundo o ex-presidente, seriam da competência exclusiva do Legislativo. O ex-chefe do Executivo também se posicionou em solidariedade aos deputados envolvidos no episódio, incluindo Lira, e os parlamentares Marcel van Hattem (Novo-RS), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Cabo Gilberto (PL-PB). A crítica de Bolsonaro foi clara ao afirmar que o diretor-geral da PF estaria “se intrometendo” em assuntos internos do Congresso, desrespeitando a liberdade de expressão dos deputados e, consequentemente, a palavra livre dos representantes do povo.
O episódio se originou no final de novembro, quando os deputados Marcel van Hattem e Cabo Gilberto foram indiciados pela Polícia Federal após críticas que fizeram ao delegado Fábio Schor, em discursos na Câmara dos Deputados. Schor, que foi um dos responsáveis pelos inquéritos que indiciaram Bolsonaro, militares e figuras da oposição, foi alvo das manifestações dos parlamentares. Após os indiciamentos, Lira tomou uma postura firme de defesa da imunidade parlamentar, prometendo que a Câmara tomaria todas as medidas necessárias para proteger a liberdade de expressão dos deputados, indo até os “últimos limites” para garantir que houvesse punição por abuso de autoridade caso houvesse interferência no trabalho dos parlamentares.
Em sua resposta, Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, afirmou que não existe “imunidade absoluta” para os parlamentares e defendeu a atuação da Polícia Federal nas investigações, sem se deixar influenciar por críticas de figuras políticas. Rodrigues reafirmou que a investigação contra os deputados seguiria em conformidade com a Constituição e com as leis do país, e que nenhum tipo de pressão ou comentário, como o de Lira, afetaria o andamento dos processos. Para o chefe da PF, a função da Polícia Federal é garantir que as investigações sejam conduzidas de maneira imparcial e de acordo com os princípios do direito, e que a imunidade parlamentar não deve ser vista como uma proteção irrestrita para qualquer tipo de comportamento.
A discussão sobre a imunidade parlamentar tem sido um tema recorrente nos últimos tempos, principalmente com as investigações envolvendo figuras políticas e a atuação da Polícia Federal em casos de críticas e ações contra o governo. No caso específico de Marcel van Hattem e Cabo Gilberto, a PF não hesitou em indiciá-los, alegando que suas falas ultrapassaram os limites da liberdade de expressão ao atacarem um membro da corporação policial. Essa postura gerou uma reação não só dos parlamentares, mas também de outros membros da classe política, que questionaram a autonomia da Polícia Federal em decidir sobre a liberdade de ação dos deputados dentro da Câmara.
A posição de Lira em defender os parlamentares e desafiar a atuação da PF foi apoiada por diversos membros do Congresso, que veem essa interferência como uma ameaça à independência do Legislativo e à prerrogativa dos deputados de se expressarem livremente. Por outro lado, a postura de Andrei Rodrigues refletiu uma defesa da atuação da PF e sua interpretação sobre o alcance da imunidade dos parlamentares, que, segundo ele, não pode ser usada como justificativa para incitação de crimes ou ataques a instituições.
Bolsonaro, por sua vez, utilizou a situação para reforçar sua crítica à atuação da Polícia Federal e, em particular, ao envolvimento de seus dirigentes em questões políticas. A crítica de Bolsonaro, ao se solidarizar com os deputados envolvidos, também reflete a sua constante oposição a investigações que envolvem membros do seu governo ou aliados políticos. O ex-presidente, que tem sido alvo de investigações desde o fim de seu mandato, considera que a PF tem agido de forma parcial e politicamente motivada.
O episódio gerou um debate sobre os limites da imunidade parlamentar, a liberdade de expressão no Congresso e o papel da Polícia Federal nas investigações contra figuras políticas. A tensão entre as diferentes esferas de poder, especialmente entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, continua a ser um tema central no cenário político brasileiro, com cada vez mais questionamentos sobre o equilíbrio entre as instituições e a atuação de figuras públicas em posições de poder. A crítica de Bolsonaro e a resposta de Rodrigues representam apenas mais um capítulo dessa complexa relação.