Jair Bolsonaro comenta operação da Polícia Federal e nega envolvimento em plano de assassinato e golpe
O ex-presidente Jair Bolsonaro se pronunciou sobre a operação da Polícia Federal que resultou na prisão de militares supostamente ligados ao seu governo. Em entrevista à revista Veja, Bolsonaro afirmou que nunca participou de discussões sobre qualquer plano para assassinar autoridades no Brasil.
Segundo o ex-presidente, as acusações que surgem contra ele não têm fundamento e ignoram a dinâmica do Palácio do Planalto durante sua gestão. “Lá na Presidência havia mais ou menos 3 000 pessoas naquele prédio. Se um cara bola um negócio qualquer, o que eu tenho a ver com isso? Discutir comigo um plano para matar alguém, isso nunca aconteceu”, declarou Bolsonaro, reforçando que não teve conhecimento ou envolvimento em qualquer ato criminoso desse tipo.
Além disso, Bolsonaro negou que as conversas que teve durante o mandato tivessem teor conspiratório ou objetivo de violar a ordem constitucional. Ele ressaltou que todas as tratativas se baseavam nas possibilidades previstas na Constituição Federal. “Eu jamais compactuaria com qualquer plano para dar um golpe. Quando falavam comigo, era sempre para usar o estado de sítio, algo constitucional, que dependeria do aval do Congresso”, afirmou.
Contexto da operação da Polícia Federal
A operação que levou à prisão de militares ligados ao ex-governo trouxe à tona mensagens e relatos que despertaram suspeitas sobre possíveis articulações para atentar contra o estado de direito. Entre os alvos, destaca-se o general Mario Fernandes, que, em trocas de mensagens com outros envolvidos, mencionou que o ex-presidente teria aceitado o “nosso assessoramento”. A Polícia Federal considera essa relação um dos elementos-chave para sustentar as investigações.
Na última quinta-feira, dia 21, Bolsonaro foi indiciado, junto com outras 36 pessoas, por crimes como tentativa de golpe, tentativa de abolição do estado de direito e organização criminosa. As acusações se baseiam em documentos, trocas de mensagens e depoimentos que apontam para a existência de articulações realizadas durante o governo do ex-presidente.
Os investigadores também destacaram a relação de confiança entre Bolsonaro e os militares envolvidos no caso. Apesar disso, o ex-presidente tem reiterado que não teve participação em qualquer esquema que pudesse colocar em risco a democracia ou a segurança de autoridades públicas.
Debate sobre o estado de sítio e acusações
Um dos pontos abordados por Bolsonaro em sua defesa é a menção ao estado de sítio, uma medida prevista na Constituição, mas que exige aprovação do Congresso Nacional para ser implementada. Ele justificou que, mesmo quando esse tipo de proposta era mencionado, tratava-se de algo dentro dos limites legais.
Especialistas avaliam que as declarações do ex-presidente buscam desvinculá-lo de quaisquer intenções golpistas, ao enfatizar o caráter institucional das discussões que teve enquanto chefe do Executivo. No entanto, as investigações da Polícia Federal indicam que parte de seu círculo próximo teria ido além, considerando ações que poderiam configurar crimes graves contra o estado democrático.
A repercussão do caso tem gerado intensos debates no cenário político e jurídico. Parlamentares e lideranças de diferentes correntes ideológicas questionam a extensão do envolvimento do ex-presidente e de figuras importantes de seu governo nos supostos planos investigados. Por outro lado, apoiadores de Bolsonaro alegam que as acusações têm motivação política e buscam enfraquecê-lo como liderança na oposição.
O desenrolar das investigações promete trazer novos desdobramentos, especialmente com o avanço da análise das provas apresentadas pela Polícia Federal. Até o momento, a defesa do ex-presidente tem adotado um discurso de negação e enfatizado que ele não compactuou com qualquer tipo de ato ilícito durante seu mandato.
A operação marca mais um capítulo na complexa relação entre o governo Bolsonaro e as instituições democráticas, evidenciando os desafios de conciliar discursos e práticas em momentos de crise política e social. O caso segue sendo acompanhado de perto por especialistas, políticos e a sociedade em geral, enquanto o ex-presidente tenta reafirmar sua posição de que agiu dentro dos limites da legalidade.