Condenações e Sentença
Na manhã de quarta-feira, 30 de outubro de 2023, começou o júri popular dos ex-sargentos da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, assassinados na noite de 14 de março de 2018. Após dois dias de julgamento, a juíza Lúcia Glioche leu a sentença na manhã de quinta-feira, 31 de outubro. Ronnie Lessa foi condenado a 78 anos e 9 meses de prisão, enquanto Élcio de Queiroz recebeu uma pena de 59 anos e 8 meses.
Além das penas de prisão, a sentença incluiu a obrigação dos réus de pagar pensão ao filho de Anderson Gomes até que ele complete 24 anos, além de indenizações por dano moral que somam R$ 706 mil para cada um dos familiares das vítimas. A juíza manteve a prisão preventiva dos réus e negou o direito de recorrerem em liberdade, enfatizando que a Justiça, mesmo que lenta, acaba alcançando aqueles que acreditam estar acima dela.
O Julgamento e os Depoimentos
O júri ocorreu no 4º Tribunal do Júri da Justiça do Rio de Janeiro, mais de seis anos após o atentado. No primeiro dia, foram ouvidas nove testemunhas, entre elas Fernanda Chaves, assessora de Marielle e única sobrevivente do ataque. Durante seu depoimento, Fernanda narrou os momentos de terror vividos naquela noite, afirmando que, após os disparos, Marielle ficou imóvel e Anderson demonstrou dor antes de soltar o volante.
No segundo dia, o promotor Eduardo Martins apresentou as alegações do Ministério Público, afirmando que o objetivo de Ronnie Lessa era eliminar todos os ocupantes do veículo das vítimas para não deixar testemunhas. O promotor reforçou que a intenção de Lessa era “queima de arquivo” e apresentou evidências, incluindo imagens do carro danificado após o ataque e pesquisas feitas por Lessa na internet relacionadas ao crime.
As defesas dos réus também tiveram a oportunidade de se manifestar. O advogado de Lessa, Saulo Carvalho, pediu que a condenação fosse justa, reconhecendo a colaboração de seu cliente com as investigações. Já a advogada de Élcio Queiroz, Ana Paula Cordeiro, argumentou que seu cliente não tinha conhecimento da intenção de homicídio até momentos antes do crime, solicitando uma pena menor em comparação à de Lessa.
Contexto e Implicações
O assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes gerou uma onda de indignação e protestos em todo o Brasil, simbolizando a luta contra a violência política e a impunidade. As investigações que se seguiram ao crime foram marcadas por desafios, incluindo tentativas de destruição de provas e a necessidade de federalização do caso.
Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos em março de 2019, e a sentença recente é vista como um marco na busca por justiça, mas o caso ainda apresenta desdobramentos. As investigações continuam, com novos suspeitos identificados e detenções ocorrendo ao longo do tempo. Em março de 2024, três indivíduos foram presos como supostos mandantes do crime, aumentando a complexidade da investigação e revelando uma teia de corrupção e violência associada às milícias no Rio de Janeiro.
A condenação dos réus traz um sentimento de alívio para as famílias das vítimas, mas também reforça a necessidade de vigilância contínua sobre a justiça e a luta contra a impunidade. A sentença, embora um passo significativo, é apenas parte de um processo maior que busca responsabilizar todos os envolvidos no crime e proporcionar um senso de justiça à sociedade brasileira.
A saga judicial que envolveu o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes destaca a fragilidade das instituições e a importância da transparência e do comprometimento com a justiça. O caso continua a ressoar em debates sobre segurança, direitos humanos e a luta contra a violência política no Brasil, sendo um lembrete constante da necessidade de um sistema judiciário que funcione em prol da verdade e da equidade.
