Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro se apresenta ao STF sob risco de perder delação premiada
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, enfrenta uma audiência crucial nesta quinta-feira (21) no Supremo Tribunal Federal (STF). Sob o risco de perder os benefícios do acordo de delação premiada, o militar deverá esclarecer contradições apontadas pela Polícia Federal em depoimentos recentes. O encontro será conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado.
Cid, que foi peça-chave no governo Bolsonaro, tem negado envolvimento ou conhecimento de um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Apesar disso, trocas de mensagens recuperadas pela Polícia Federal indicam que ele sabia do monitoramento de Moraes, um ponto que pode comprometer sua colaboração e levar ao cancelamento do acordo.
Risco de perda da delação premiada
Desde que firmou o acordo de delação em setembro de 2023, Mauro Cid colaborou com as investigações e deixou a prisão, onde estava desde maio do mesmo ano. No entanto, omissões e respostas consideradas evasivas pela PF reacenderam dúvidas sobre sua sinceridade. Pessoas próximas ao militar relatam pessimismo em relação à manutenção do acordo e temem que a audiência de hoje resulte em nova ordem de prisão.
Caso a delação seja anulada, as provas e informações fornecidas por Mauro Cid continuarão válidas para a investigação. Contudo, ele perderá os benefícios negociados, incluindo a liberdade provisória e a redução de uma possível pena.
Contradições no depoimento
No depoimento prestado na terça-feira (19), Mauro Cid tentou justificar o contexto de mensagens que, segundo a PF, indicam seu envolvimento no monitoramento ilegal de Moraes. Ele alegou não saber que a prática era ilegal. Além disso, reafirmou que não tinha conhecimento de um plano para matar Lula, Alckmin e o ministro do STF, limitando-se a admitir participação em iniciativas para tentar manter Bolsonaro na Presidência.
O desânimo de Cid ficou evidente na véspera da audiência. De acordo com familiares, o militar chorou e demonstrou preocupação com o desfecho de seu caso. Apesar de afirmar que respondeu a todas as perguntas da Polícia Federal, ele ainda tenta convencer as autoridades de sua inocência em relação às acusações mais graves.
Delação premiada e acusações contra Cid
Mauro Cid foi preso em maio de 2023 como parte de uma investigação sobre fraude em cartões de vacinação, incluindo o de Jair Bolsonaro. Posteriormente, tornou-se uma figura central na apuração sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. Ao firmar o acordo de delação, homologado pelo STF em setembro, Cid passou a colaborar com as investigações, revelando detalhes sobre a atuação de aliados do ex-presidente.
Desde então, ele esteve sob monitoramento rigoroso, usando tornozeleira eletrônica, cumprindo recolhimento domiciliar noturno e sendo proibido de deixar o país ou se comunicar com outros investigados. Apesar disso, o militar enfrentou riscos de perder a delação em março, após o vazamento de áudios em que criticava Alexandre de Moraes e a Polícia Federal. Na época, Cid foi preso novamente e passou mal durante uma audiência.
Após nova decisão de Moraes, ele foi liberado em maio de 2023, mas recebeu um alerta claro: deveria cumprir rigorosamente as condições do acordo. A audiência de hoje representa mais um teste para a credibilidade de sua colaboração.
Avanço das investigações
A audiência de Mauro Cid ocorre em um momento decisivo para o inquérito que investiga Bolsonaro e seus aliados por tentativa de golpe de Estado. A Polícia Federal deve concluir o caso ainda nesta semana, com a apresentação de um relatório final ao STF. O depoimento do ex-ajudante de ordens é considerado um dos últimos atos da investigação.
Para analistas políticos e jurídicos, o desfecho da delação de Mauro Cid pode ter impacto significativo na dinâmica do inquérito. Caso o acordo seja cancelado, as autoridades poderão utilizar as provas fornecidas, mas perderão uma fonte direta de informações, o que pode dificultar a ligação de Bolsonaro a eventos mais graves, como o suposto plano de assassinato.
Futuro de Cid e reflexos no cenário político
A situação delicada de Mauro Cid reflete o contexto de tensão e polarização que domina o cenário político brasileiro. Enquanto aliados de Bolsonaro tentam minimizar as acusações, opositores apontam a gravidade das evidências contra o ex-presidente e seus associados. O desenrolar da audiência desta quinta-feira será crucial para determinar os próximos passos do inquérito e os impactos na estabilidade institucional do país.
Independentemente do resultado, o caso reforça a complexidade das investigações envolvendo figuras de alto escalão do governo anterior. A manutenção ou anulação da delação de Mauro Cid poderá definir não apenas seu destino jurídico, mas também a trajetória de outros envolvidos no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado.